UM DESAFIO VITORIODO: “DA TELA PARA O MUNDO” NA ESCOLA D. PEDRO V.
Há uma disciplina de Teatro muito estimulante na Escola, antigo Liceu D. Pedro V. Com professores esforçados e talentosos que têm conseguido com que muitos dos seus alunos sigam Cursos Superiores de Teatro. Motivando-os ensinando-os, não só nas técnicas da disciplina, mas também num constante rigor, dedicação, disciplina e muito trabalho.
Por isso fui ver, com imensa curiosidade o trabalho que Gonçalo Barata, um amigo e encenador que muito admiro, fez a partir de uma poetisa belíssima mas pouco divulgada e conhecida, entre nós, de origem indiana mas fixada no Canadá, rupi kaur, nascida em 1932. Aquela que a actriz Estrela Novais – que leccionou, naquele Curso, muitos e longos anos, dava a conhecer aos seus alunos. E que, neste espectáculo, Gonçalo Barata quis homenagear, colega, entretanto falecida, e autora. Sabendo como é difícil encenar Poesia, tornando-a algo interessante e apetecível, daí, desde logo, a curiosidade de como Gonçalo Barata iria superar este tão difícil desafio.
E o facto é que, tendo de abordar a sua dupla autoria, de pintora e poetisa, o que vi me satisfez plenamente. Mas falemos um pouco mais de rupi kaur que se tornaria conhecida pela publicação de breves poemas seus no Instagram, dado que o seu primeiro livro publicado, “Leite e Mel”, data de 2015. Os temas que aborda são a violação e o abuso sexual, o amor, a perda e a feminilidade. Já o seu 2º livro, “O Sol e as suas Flores” (2017), a tornaria mais conhecida enquanto o seguinte, “Home Body” (2020), se situou, em primeiro lugar de vendas, em vários países. Nascida no Punjab (India) veio com 4 anos, com os pais, para o Canadá, Toronto. A mãe inspirá-la-ia a pintar e desenhar. Cursou depois Retórica e Escrita Profissional na Universidade de Waterloo, no Ontario. onde reside com os pais e 4 irmãs. Em 2019 é eleita, pelo New Yorker Republik, como escritora da década. É considerada, em 2017, “uma das 100 mulheres mais importantes” na lista da BBC britânica. Encontra-se traduzida em vários países, também entre nós.
UMA ENCENAÇÃO MARAVILHOSA
A encenação de Gonçalo Barata, imaginativa e desafiadora, começa cá fora, no foyer, antes de entrarmos no Auditório de Teatro: alunos e alunas escrevem à máquina, simulam pintar em cavaletes, colocando-nos logo perante a dupla função de rupi kaur – pintura e poesia. Numa bela coreografia em que o corpo é, e será, sempre o centro. Depois, quando entramos na sala, essa coreografia de movimentos que vão traduzindo gestualmente as palavras, pequenos poemas, ditos, é muito bela, sugestiva, por vezes erótica. Como no tocante Dueto, traduzindo, o corpo, esse corpo que como a autora diz, no seu ultimo livro, é a nossa principal casa – aquela que habitamos, cuidamos e povoamos – num trabalho colectivo dos múltiplos intérpretes, realizado com maestria e um sentido de grupo, do colectivo, essencial no Teatro e uma cumplicidade bonita em que cada um dá o seu melhor. Completada por uma banda sonora estupenda, como sempre com este encenador, e um desenho de luz que define espaços e cria as exactas atmosferas com aquela. Um espectáculo, em resumo, com nível bem profissional. Creio, Gonçalo Barata, que a tua colega, Estrela Novais, esteja onde estiver, deve ter ficado supercontente com o carinho, a dedicação e o empenho que toda a equipa colocou neste espectáculo. Apenas algumas, poucas, correcções a fazer a nível de dicção, Para que a palavra se oiça, total e transparente. Mas o resultado para um mês, apenas, de ensaios e uma semana de sala, é francamente entusiasmante.
Por tal parabéns a toda a equipa, inclusivamente a Manuela Lino pelo excelente Grafismo do programa e bilhetes.
TEXTO: rupi kaur. De “O Sol e as suas Flores”. TRADUÇÃO: Maria Santos Nunes e Leonor Santos Nunes. ADEREÇOS: Maria José Jacinto, Manuela Lino, Colectivo. CENOGRAFIA E FIGURINOS: Colectivo. DESENHO DE LUZ E BANDA SONOA: Gonçalo Barata. CARACTERIZAÇÃO: Victória Rolo e Andreia Caballero. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Julyenne Pires, Iara Costa, Jenifer Barros. PRODUTORES: Carolina Viana e Catarina Almeida. FRENTE DE SALA: Victória Rolo, Ellyn Sinflório, Daniela Silva. CONTRA-REGRAS: Carolina Viana e Catarina Almeida. CAMARINS: Patrícia Quaresma e Rubi Mendes. FOYER: Beatriz Gonçalves, Henrique Santos, Carla Agostinho e Rubi Mendes. GRAFISMO: Manuela Lino. GRAVAÇÃO/EDIÇÃO DE VÍDEO: São Ludovino. COMUNICAÇÃO: Jenifer Barros e Rafael Passinhas. INTÉRPRETES: Allia Jorge, Andreia Caballero, Beatriz Gonçalves, Carla Agostinho, Carolina Viana, Catarina Almeida, Henrique Santos, Jenifer Barros, Julyenne Pires, Patrícia Quaresma, Rafael Passinhas, Ricardo Ferreira, Rubi Mendes, Victória Rolo, Vivian Mendes e Iara Costa. ENCENAÇÃO: Gonçalo Barata.
Estreia: Dezembro de 2024. Escola D. Pedro V.
Lindo e justo o agradecimento a Estrela Novais. Sem ela este espectáculo – o conhecimento da sua autora rupi kaur – não teria sido possível.
Tito Lívio

